31 de mai. de 2010

As minhas faces

As minhas faces

Observo a caixa onde o último charuto descansa
Há uma certa elegância no aroma do Cohiba

Ainda pousa sobre amarelados papéis
a caneta de pena importada
o relógio de bolso em ouro
(ambos herança de meu avô)

já desfiz-me de tudo que era precioso

perdi-me de muitos rostos caros e amigos
e morri um pouco em cada mulher que amei

hoje o tom escuro repousa em quase todas minhas roupas
e meu peito e braços são de cinzas e barro
sou feito de cinzas e barro
e toda essa profusão de sons, cores, pessoas
são estranhas ao meu olhar.

Relembro na pausa de um suspiro (lento)
Toda minha vida
pouca coisa restou de uma época e de mim.

Os últimos poemas ainda insistem na memória
Eles tem a alma, o ritmo e o segredo dos mares

E toda noite, condenam-me veemente
ostentando sobre as ondas, brados revoltos
em espumas claras-intensa-reluzente
A face de todos meus “eus” mortos


Tonho França

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