18 de mai. de 2010

A moça...

A moça ...

Tinha os olhos e cabelos formados por feixes de águas negras e profundas
A pele morena e lisa em tom de terra secular e misteriosa
Lábios finos e doces como o sumo dos morangos
Sua voz era a mesma das deusas e das prostitutas de todos os tempos
E guiava o vôo dos pássaros e o rumo do sol
O vestido de neve rendado por pedras e ervas
cobria o corpo bordado em fios de ouro e pérolas
Era a moça de Santa Cruz de La Sierra
Era a moça de Santa Cruz
Na mão direita estampada a face de vários mortos
E na outra um cajado de lua e estrela
Os seios erguidos apontavam o céu
E amamentavam pequenos anjos que nasciam nas noites de inverno
Não era amante de homem nenhum ou de qualquer criatura
Os pés descalços pisavam o tempo e as promessas
Suas lágrimas banhavam os vales em trigo e vinho
E era do seu sopro que nasciam os sonhos de todos os homens
Por todos os dias e noites num tecer que não se encerra
Era a moça de santa cruz de La sierra
Era a moça de santa cruz
Era a santa
Ela a cruz


Tonho França

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